O Papel da Comunicação Interpessoal na Gestão de Conflitos Laborais _ por Deogénia Ubisse

O Papel da Comunicação Interpessoal na Gestão de Conflitos Laborais no Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional


Resumo

Neste artigo tem-se como objectivo analisar o papel da comunicação interpessoal na gestão de conflitos laborais no Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional (MCTESTP), tendo como base a avaliação da situação dos anos 2015 a 2019. O estudo procura identificar as principais causas dos conflitos laborais, e propor acções de intervenção para a resolução dos conflitos no MCTESTP. Dada a sua natureza qualitativa, os dados foram colectados através da análise documental e revisão de literatura relevantes, enfocando na situação geral da gestão dos conflitos laborais na administracão pública no geral e no MCTESTP em particular. Para a concretização desta pesquisa usou-se abordagem qualitativa que se mostrou adequada por se tratar de uma pesquisa onde foram aplicadas técnicas de entrevista e questionário na recolha de dados. Quanto aos procedimentos técnicos trata-se de uma pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo. Os resultados indicam que o conflito pode ser prejudicial, mas pode também trazer benefícios, possibilitando o surgimento de ideias inovadoras. O desacordo aberto pode levar a uma maior exploração de sentimentos, valores, atitudes e pontos de vista. Actualmente entende-se que a existência de conflitos é útil para manter a vitalidade das organizações e dos grupos e para as relações interpessoais.

Palavras-chave: Conflitos; Comunicação; Gestão de Conflitos.

 


Abstract

The present research has as its title the role of interpersonal communication in the management of labor conflicts period 2015 until 2019: a case study in the Ministry of Science and Technology, Higher Education and Vocational Technician. Conflicts are inherent in organizations, since they bring together individuals who relate to each other in everyday life and who occur by the difference of personal goals and interests, is an inevitable part of human nature and constitutes the opposite side of cooperation and collaboration. In this way, it was intended to analyze the role of interpersonal communication in the management of labor conflicts in the Ministry of Science and Technology, Higher Education and Vocational Technician. The pertinence of the study lies in the fundamental importance of communication in the management of labor conflicts, since with the absence of this affects the organizational climate and especially the performance of employees. Methodologically, with a sample of 50 employees and taking the form of field research - descriptive, qualitative, whose results show that internal communication is the communication effort developed by an organization, organ or entity to establish channels that enable the relationship agile and transparent, of the management with the different internal publics and between the own elements that integrate them. Therefore, it is important to take into account that conflicts are not at all bad, because they allow changes in any institution and it is fundamental to manage them according to their characteristics and the capacity of management of the administrator. In this sense, the survey found that in the Portuguese-speaking countries, Public Mediation and Labor Arbitration Systems were adopted, the importance of which is justified not only because it is a means of expressing the autonomy of the social partners, the most important way in which employers and workers jointly establish schemes of economic and social organization, determining better living and working conditions by influencing economic development.

 

Keywords: Conflicts, Communication, conflict management, productivity.

 

1.    Introdução

Encontrámo-nos numa época em que o trabalho torna-se cada vez mais participativo, complexo, competitivo e interdependente, propiciando o surgimento de diferenças entre indivíduos e que cada vez mais vão se acentuando. E, porque a sociedade é constituída por organizações sociais, grupos e pessoas que possuem percepções e perspectivas próprias de acordo com a realidade que os rodeia, neste contexto de elevada inteiração entre os diferentes indivíduos, os conflitos tornam-se cada vez mais frequentes (Kunsch, 2003).

Os conflitos fazem parte da nossa vivência enquanto seres sociais em constante interacção com os outros, ele é parte integrante da vida dos seres humanos, cuja existência não é prejudicial, antes pelo contrário, promove o crescimento e desenvolvimento: o que, a sua anulação ou inexistência não seriam de modo algum benéficas quer para os indivíduos quer para as organizações (Nascimento, 2002).

Para Chiavenato (2006), os seres humanos são obrigados a cooperar uns com os outros, formando organizações para alcançar certos objectivos que a acção individual isolada não conseguiria alcançar. Isto querendo dizer que, organizações são sistemas de actividades coordenadas por duas ou mais pessoas que cooperam, cuja existência depende da sua capacidade de se comunicarem e da sua disponibilidade em contribuir com acções conjuntas, a fim de alcançarem um objectivo comum.

Sendo a comunicação a base essencial de toda sociabilidade, no entender de Rodrigues (2008), o objectivo da comunicação é reconhecer e ser reconhecido como parceiro de troca: ou seja, esta comporta inevitavelmente relações de poder e de conflito, porque podemos reconhecer e ser reconhecidos como idênticos e como diferentes, como amigos e como inimigos, que o vínculo, criado, mantido, perdido é recuperado pela comunicação.

Portanto, a comunicação não se dá isoladamente, ela gera envolvimento, comprometimento, motivação e troca de informação e tem sido apontada como um factor que pode não só contribuir como também criar dificuldades para o engajamento das pessoas ou para a redução de resistências no processo de mudanças dentro de uma instituição. Assim sendo, ela só será estabelecida se houver troca de informação, ou seja, quando há o feedback ou retroalimentação (Pimenta 2002).

A comunicação é uma ferramenta básica no funcionamento das instituições, quer seja no âmbito interno com seus colaboradores, ou na sua relação com o exterior. É como afirma Bruno (2013), ao sublinhar que somente as instituições que colocam a comunicação como um dos grandes pilares de seu funcionamento podem enfrentar os grandes desafios de um mundo competitivo. Por conseguinte, os processos de comunicação desenvolvidos e adoptados por uma instituição visam proporcionar facilidades para que todos executem suas actividades com conhecimento e profissionalismo, sempre lembrando que todo o processo de comunicação gerado na instituição está directamente ligado à sua cultura organizacional.

Mesmo com o avanço dos meios de comunicação, os conflitos gerados entre as pessoas continuam presentes: entendendo-se que estes são parte integrante da vida dos seres humanos ou seja, que estes fazem parte da nossa vivência enquanto seres sociais em constante interacção com os outros. Deste modo, a comunicação é tida como um mecanismo para a mobilização, e tem como principal foco a construção de um diálogo entre os profissionais no intuito de construir a base da resolução de conflitos laborais, assim como no fomento de formas pacíficas de como encarar o problema (Jacomi, 2011). Por isso, as instituições devem aprender a se comunicar com a sociedade através de canais disponíveis como a internet, o celular, o correio electrónico, a comunicação oral, os rádios, a televisão, entre outros tipos de meios, porque a comunicação é fundamental em nossas vidas, independentemente do nível hierárquico em que a pessoa faça parte ou da sua condição social.

Quando se verifica uma falha na comunicação interna é sinal de que o gestor deve entrar logo em acção, para que ele possa neutralizar a raiz do problema. Isto porque, sem uma comunicação estabelecida, as pessoas ficam perdidas e passam a adoptar uma postura individual. Isso faz com que ocorram erros, sejam significativos ou não, realidade que traz consigo um prejuízo maior no desempenho tanto individual quanto o da equipa (Pimenta 2002).

Contudo, percebe-se que o conflito surge devido à falta de comunicação permanente e que este se torna quase que inevitável porque a existência de conflitos nas instituições não é prejudicial e pode ser positiva para o desenvolvimento organizacional, posto que promove o crescimento e sobretudo um pilar fundamental e de extrema importância na prevenção e gestão dos conflitos; a existência dele com baixos níveis, deixa as instituições vulneráveis à estagnação. Deste modo, se pressupõe que os conflitos existiram, existem e sempre existirão, variando de acordo com o contexto.

Por conseguinte, a existência de “dificuldades” como a deficiente comunicação no MCTESTP, a falta de incentivos por parte de alguns funcionários como por exemplo a promoção e progressão na carreira, viagens para troca de experiência, afectação aos cursos de longa e curta duração para adquirirem experiências no dia-a-dia do exercício das suas funções, entre outros, são elementos e factores determinantes que fomentam a geração de conflitos laborais. No entanto, constata-se que fundamentalmente, todos os conflitos, manifestos ou não, são causados pela existência de falhas no processo de comunicação e que indicam sinais que parecem indicar que no MCTESTP não há suficiente articulação e mobilização dos intervenientes para responder às exigências que se lhes colocam. No entanto, se for previlegiada a comunicação tida como um mecanismo para a mobilização, cujo principal foco é a construção de um diálogo entre os profissionais, vai propiciar a construção da base de resolução de conflitos laborais, assim como no fomento de formas pacíficas de como encarar o problema.

Compreende-se por comunicação como um dos instrumentos centrais para as instituições públicas e, ou privadas, sobretudo na gestão de conflitos laborais, em que a participação e o envolvimento de todos é um dos pressupostos para o seu êxito (Kunsch, 2003). Neste caso para que os profissionais do MCTESTP sejam envolvidos é necessário a utilização das ferramentas de comunicação correctas para informar e mobilizar, na gestão de conflitos laborais. Outro elemento importante vivenciado e factor chave é a falta de acompanhamento, porque é dever do gestor orientar e acompanhar as actividades que estão sendo realizadas no local de trabalho, para o efeito cada funcionário deve possuir um plano de actividades individual.

É dentro deste contexto que a presente pesquisa vai debruçar-se dos conflitos no âmbito laboral, que podem apresentar-se devido a existência de simples diferenças de pontos de vista ou diferença de ideias ou até mesmo por alguma insatisfação pessoal ou colectiva, entretanto, tendo como principal enfoque a falta ou deficiente comunicação no MCTESTP.

2.    Gestão de Conflitos Laborais

É reconhecida a utilidade da existência de um certo grau de conflito para a vitalidade das organizações e dos grupos, assim como também para as relações interpessoais. Dai que, em relação a gestão de conflitos, Chiavenato (2004: 418), afirma que uma qualidade importante no administrador é sua qualidade de gestor de conflitos.

No entanto, não existe um estilo definido que seja amplamente eficaz, pois numa situação uma estratégia pode ser eficaz e na outra pouco apropriada. Por isso, para uma eficaz resolução dos conflitos é preciso compatibilizar alguns passos a serem seguidos, conhecer e aplicar alguns saberes e, também, definir o estilo a ser adoptado, seguindo os seguintes passos que são considerados de suma importância que podem ajudar: criar uma atmosfera afectiva; esclarecer as percepções; focalizar em necessidades individuais e compartilhadas; construir um poder positivo e compartilhado; olhar para o futuro e, em seguida, aprender com o passado; gerar opções de ganhos mútuos; desenvolver passos para a acção a ser efectivada; estabelecer acordos de benefícios; olhar para as questões de maneira deliberada e tente identificar os factores emocionais que agravam a situação; explorar formas alternativas de lidar com um problema; durante as discussões, evitar que a carga emocional aqueça em excesso; se a outra pessoa se enervar muito, a outra deve tentar orientar a discussão para os problemas e soluções em vez de responder com mais emoção ainda; ouvir com atenção o que a outra pessoa está a dizer; reformular o entendimento da mensagem do interlocutor e procurar a confirmação. Muitas vezes, simplesmente deixar a outra pessoa esvaziar os seus sentimentos pode reduzir a tensão e melhorar os resultados; Sempre que ocorrer uma discordância grave deve-se resumir os pontos de concordância e discordância, e convidr os membros a apresentarem as  sugestões de melhoria; se o conflito persistir, deve-se olhar as coisas numa perspectiva global e se o conflito for suficientemente importante, deve-se considerar a possibilidade de mediação por terceiros. Pois, neste sentido, pode-se afirmar que existem vários modos, mais ou menos positivos, de resolução de conflitos: pela negociação, pela conciliação, pela mediação, pela arbitragem e pelo julgamento, que de acordo com Robbins (2002), que exigem cinco intenções e/ou perfis de conduta distintos: Competir; Colaborar; Evitar; Acomodar-se e Conceder.

 

3.    Papel da Comunicação Interpessoal na Gestão de conflitos laborais

Actualmente as instituições tendem a se tornar cada vez mais globalizadas, para concorrer no mercado de trabalho, que está cada vez mais competitivo. Essa globalização obriga as organizações a terem um leque de trabalhadores de culturas diferentes, logo, com hábitos, costumes e valores diversos. Nesse momento, a comunicação, torna-se um grande desafio. Ela é um dos factores mais importantes para a boa convivência dos indivíduos em qualquer sociedade e como tal, também no ambiente de trabalho. É através da comunicação interpessoal que o diálogo flui entre as pessoas, partindo do pressuposto que o homem é um ser social e necessita de convivência com os seus iguais.

No contexto organizacional, a comunicação é de suma importância para direccionar acções coordenadas, transmitir informações e a maneira como é realizada influência sobremaneira os comportamentos e atitudes organizacionais (Griffin e Moorhead, 2006). Por esse motivo, faz-se necessário destacar o papel que a comunicação desempenha nas organizações e seus componentes, dando ênfase na perspectiva dos problemas na comunicação gerando conflitos.

A comunicação é importante porque difundi dentro da instituição os conhecimentos adquiridos pelos funcionários, directores e os chefes dos departamentos; divulga as acções da organização de forma directa e transparente; envolve a equipa de trabalho da organização nas metas da organização (Hayrton, 2010).

Igualmente, a comunicação como possível desencadeador do conflito, é um processo que exige uma troca de informação, como uma via de mão dupla que envolve, além das palavras, emoção, compreensão, aceitação e acção. Segundo Griffin e Moorhead (2006), é o processo social no qual duas ou mais partes trocam informações e compartilham significados. Comunicar é transferir informação com a finalidade de influenciar comportamentos, mas apesar dos vários meios e formas de informar e transmitir conhecimento, nem sempre se consegue efectivar a comunicação. A organização precisa fornecer informações necessárias aos colaboradores para seu desenvolvimento pessoal, assim como, para alcançar as metas e objectivos da organização, para isso é necessário que a organização informe e divulgue seus ideais e objectivos, para que saibam aonde quer chegar; sua missão, visão e valores para que todos possam contribuir para o alcance das metas traçadas; apresentar de forma clara as regras organizacionais, deixando claro aquilo que é importante para o bom desenvolvimento da organização.

Deacordo com Kunsch (2009), a comunicação Interna é tão importante numa organização, porque por meio dela a organização recebe, oferece, canaliza informação e constrói conhecimento, tomando decisões mais acertadas. A comunicação interna tem uma função importante, no sentido de fazer circular as informações novas, promover o debate e a interação entre os vários segmentos da organização e, sobretudo, capacitar os funcionários para os novos desafios, pois, deixa de ser uma área periférica e alia-se aos demais sectores, tornando-se assim uma ferramenta imprescindível para a obtenção de resultados. Assim, percebe-se que comunicar é mais que informar, é atrair, é envolver. É neste processo, que todos os trabalhadores possuem seu valor e actuam de forma a tornar uma organização bem informada ou não. Trabalhadores bem informados fazem toda a diferença no desempenho da organização. Por isso, que além de simplesmente comunicar as metas e objectivos da organização, é necessário que estes recebam feedbacks de seus superiores, através de reuniões periódicas, que indiquem seu desempenho e sua evolução dentro da organização.

Para Martiniano (2007: p.156), a má comunicação traz desgastes nas relações, agressões verbais, perda de tempo com re-trabalho, mal entendidos, susceptibilidades afectadas, perda de motivação e stresse. A comunicação se bem administrada oferece a qualquer organização agilidade e clareza, sendo ela a responsável pelo desenvolvimento humano e de sua organização. Portanto, a comunicação interpessoal é fundamental para o progresso e desenvolvimento das organizações, é um recurso humano bastante específico, justamente por possuir emoções e formas de comportamento que variam de pessoa para pessoa. Ela assume um papel de grande relevância para o desenvolvimento racional e coerente dos processos de produção. Comunicar-se é ter uma fonte inesgotável de entendimento entre duas pessoas, de tal forma que possam compartilhar aquilo que sabem e sentem. É dessa forma que podemos influenciar os outros com as nossas ideias, pensamentos, sentimentos e valores.

A nível das instituições, o factor comunicação interpessoal, tornou-se a ferramenta mais importante que cada indivíduo deverá utilizar para o alcance de seus objectivos, sejam eles a curto, médio ou a longo prazo. Quando se trata de relacionamento entre os colegas de trabalho, convém observar sempre a forma que se utiliza seja a comunicação verbal ou não-verbal. Deve-se ter o cuidado de mostrar que aquilo que falamos de igual forma seja transmitido pelos nossos gestos, postura e comportamento. Ela deve ser recíproca, à medida que as pessoas avaliam seus relacionamentos comparando o que elas dão com o que elas recebem. Daí podemos concluir que uRobson Dal Bó
Business coaching da ActionCOACH – empresa líder mundial em business coaching para pequenas e médias empresas e primeira franquia de coachingno Brasil. Formado na UNICAMP, graduado em Engenharia Eletrônica, Mestrado em Engenharia Mecânica na área de Robótica e iniciado o Doutorado em Química, executando projetos durante 18 anos em multinacionais. Trabalhou em função de comando nas áreas de produção, manutenção, automação, treinamento e processos em unidades fabris em diferentes estados e países. Interagiu com as áreas: Financeira; Vendas; Planejamento; Desenvolvimento de Produtos; Recursos Humanos; Produção; e Atendimento a Clientes. Possui cursos de aperfeiçoamento em: Gestão de Negócios, na Fundação D. Cabral; Gestão de Pessoas, na Dale Carnigie International; Gestão de Qualidade e Ambiental, na Fundação Vanzolini. Adquiriu know-how trabalhando com equipes e assessorou a grandes empresas multinacionais no treinamento de equipes.
+ textos de Robson Dal Bóma boa comunicação entre todos os colaboradores de uma organização é fundamental para o bom andamento dos negócios. Ao contrário do que muitas organizaçãos e colaboradores possam imaginar, a comunicação vai muito além de dizer algo ou dar voz a uma ideia, mas sim fazer com que o outro lado compreenda aquilo que realmente queremos expressar, sem que haja ruídos e falhas neste processo.  Quando há uma boa comunicação entre os membros de uma equipa existe também um melhor relacionamento e uma melhor interação de todo o grupo de trabalho. Sendo assim ideias, opiniões, sugestões, teorias, são compartilhadas e desse modo podem ser aprimoradas e colocadas em prática, quando necessário. Afinal, comunicação é o segredo para ter uma equipa alinhada e motivada.

4. O caso do Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional 

Neste estudo, é um único tipo de população alvo, constituída por funcionários do MCTESTP, sendo uma população considerada finita, com 392 funcionários, dos quais 48 chefes e 344 técnicos, dos quais seleccionou-se uma amostra constituída por 6 chefes e 44 técnicos.

No que respeita a caracterização do grupo-alvo, esta compreende o género dos funcionários, idade, tempo de serviço na instituição, a carreira profissional e o grau académico.

Em termos gerais, 60% dos Recursos Humanos do MCTESTP no Órgão Central e das Instituições Tuteladas são do género Feminino e os restantes 40%, são do género Masculino, como se pode constatar no gráfico 1 em anexo.

As instituições tuteladas do MCTESTP que apresentam mais Recursos Humanos do sexo feminino são: CNAQ, FNI e IBE. Igualmente, de acordo com o gráfico acima, a maior parte dos Recursos Humanos do MCTESTP se encontram concentrados no Órgão Central e no INTIC. E, em relação ao grau académico, a maoria possui o grau de Licenciatura, correspondete a 42% (vide em anexo gráfico 2).

Entretanto, para a presente pesquisa participaram 50 funcionários do MCTESTP, que comportavam idades dos 27 aos 54 anos de idade; sendo, 18% com idades entre ao 27-33, 40% com idades de 34-40, 30% com idades dos 41-47 e os restantes 12% com idades dos 48-54 anos de idade.

Assim, quanto ao género, 60% dos funcionários que participaram do estudo são do género feminino, enquanto os restantes 40%, do género masculino, como se pode conferir no gráfico 3 acima. Em relação ao tempo de serviço na instituição, 32% dos funcionários do MCTESTP afirmou estar a trabalhar naquela instituição a menos de 1 Ano, 48% entre 1 a 5 Anos, e os restantes 20% a mais de 5 Anos, como se pode conferir no gráfico 3 em apêndice. Em termos de carreira, 10% se encontram na categoria de auxiliar administrativo, 18% são auxiliares técnicos, 14% são técnicos profissionais e os restantes 58% são técnicos superiores, como se pode conferir no gráfico. No que concerne a formação Académica dos Funcionários do MCTESTP, 6% foram doutorados, 8% mestres, 36% licenciados, 12% técnicos profissionais e os restantes 38% fizeram o ensino básico, como se pode conferir no gráfico 1.

É nesta concepção que Dutra (2004: p.28), lembra que “o simples facto de possuir um conjunto de conhecimentos, habilidade e atitudes não garante que o indivíduo desenvolva suas atribuições e responsabilidades, ou ainda, agreguem valor à instituição”, portanto, a aprendizagem individual não garante a aprendizagem institucional e entretanto, sem ela, a aprendizagem institucional não ocorre, havendo a necessidade de integração entre as perspectivas individuais e institucionais neste âmbito.

Os dois instrumentos de recolha de dados, para além da caracterização do local da pesquisa e do grupo-alvo, pretendiam perceber acerca do papel da comunicação na gestão dos conflitos laborais.

Concretamente na parte II do guião de entrevista e do questionário, tinha como objectivos, colher a sensibilidade relativa aos conflitos na instituição, identificar os factores que geram falhas no processo de comunicação, perceber as situações de conflito que são vivenciadas na instituição e a forma como são resolvidos e, compreender os benefícios experimentados após a resolução dos conflitos laborais na instituição, tendo sido obtidas as seguintes respostas em relação as mesmas: Todos os pesquisados concordam que existem conflitos entre funcionários, com os seus chefes e também entre os chefes, cujas razões é o surgimento de choques e desentendimento, a ausência de recursos, entre outros factores o que afecta o ambiente de trabalho na instituição. Ficou evidente que a falta de comunicação entre os colaboradores e dirigentes no MCTESTP, contribui no surgimento de conflitos laborais, na medida em que o desempenho de muitos funcionários tem sido afectado negativamente devido as situações de conflito vivenciadas na instituição, afectando sobretudo o clima organizacional.

Os pesquisados concordaram ao afirmar que das alternativas para a gestão de conflitos existentes, os pesquisados concluíram que no MCTESTP tem sido utilizados métodos de negociação colectiva, o que tem concorrido para a satisfação geral dos funcionários, mas que não tem sido possível medir a insatisfação pessoal dos funcionários o que pode agudizar as falhas na comunicação interna. Porém, todos tem a expectativa de que esforços tendentes a melhorias na comunicação, podem estancar os conflitos e concorrer para a melhoria do desempenho dos funcionários.

Ao longo da revisão da literatura, ficou patente o facto de os conflitos fazerem parte da natureza humana ao mesmo tempo em que, através da sua capacidade de comunicação os seres humanos se esforçam em encontrar as soluções para que reine um ambiente organizacional harmonioso e saudável. Assim, a partir dos resultados obtidos no processo de pesquisa, e tendo em consideração as perguntas que orientaram esta pesquisa, pode-se afirmar que os resultados obtidos na entrevista servem de resposta a esta investigação, senão vejamos: em relação a questão orientadora da pesquisa, “em que medida a falta de comunicação entre os colaboradores e dirigentes no MCTESTP, contribui no surgimento de conflitos laborais?” todos os pesquisados foram unânimes em concordar, afirmando que as falhas na comunicação entre funcionários determinam grandemente na existência de conflitos na instituição.

Na busca acerca da percepção sobre os conflitos laborais e de suas causas, os pesquisados afirmaram haver adversidades no MCTESTP que se manifestam pela existência de diferenças, relações de poder, influência, diversidade de interesses, necessidades diferentes, diferenças de pontos de vista e de ideias e comunicação deficiente, gerando dificuldades de entendimento e ruídos nos canais de comunicação, fazendo com que os subordinados encontrem dificuldades em reconhecer os objectivos que devem ser alcançados.

Outras linhas dizem respeito a estrutura organizacional traduzida pela disputa de papéis, escassez de recursos; os mal-entendidos (ruídos na comunicação) no ambiente de trabalho; diferenciação de tarefas; alta rotatividade no que concerne aos beneficios; compromisso individual nas organizações; falta de confiança e desvalorização do trabalho entre os membros da equipa. Não poucas vezes, os chefes são incapazes de criar um processo de comunicação acessível, mais ou menos inteligível, denotam falta de respeitos pelos funcionários; não fazem o retorno da informação; falta a escuta activa e com frequência usam a agressão verbal. Ainda na presente pesquisa, foram encontradas como fontes dos conflitos no âmbito laboral, as diferenças nos incentivos, diferenças dos objectivos e interesses pessoais, discriminação por idade, género ou outro tipo de privação da possibilidade de promoção e progressão profissional, avaliação negligente de um subordinado, sobrecarrega do funcionário para que transpareça ser uma pessoa incompetente, a não atribuição de tarefas a alguns funcionários ou a atribuição de tarefas sem qualquer utilidade, atribuição de trabalhos que sejam muito inferiores às competências ou capacidades do funcionário, fazer comentários em relação ao funcionário que o desacreditem tanto a nível profissional assim como pessoal e o incumprimento de promessas pelos chefes.

De acordo com Carvalho (1998), Quinn (2003) e Paula (2005), no que concerne as especificidades da gestão pública, tal facto leva a concepção dos funcionários públicos a cometerem actos de irresponsabilidade e descomprometimento com a coisa pública: “achar que ser funcionário público é sinónimo de ganhar bem e trabalhar menos”, o que se configura como sendo um mito. Ainda para os mesmos actores, outros factores que aumentam a possibilidade de conflito nas instituições públicas são como o organograma da instituição é moldado e a existência dos cargos de confiança e a escassez de recursos. Deste modo, a divisão hierárquica na Administração Pública nem sempre obedece a critérios racionais e administrativos, podendo variar de acordo com a vontade dos gestores, assim como a distribuição dos chamados cargos de direcção, chefia e  confiança. Estes cargos permitem a entrada de pessoas que não possuem conhecimentos efectivos na instituição, e por vezes, a nomeação destes não se dá por competência ou mérito dessas pessoas, mas muitas vezes por posições políticas e pessoais, o que gera conflitos também ligados às relações de poder.

De acordo com Quinn (2003) e Dutra (2004), a divisão das tarefas nem sempre é unânime nas organizações, portanto faz com que alguns tenham mais responsabilidades do que outros e se sintam mais sobrecarregados coloca-se como um factor importante para a geração de conflitos, além disso, a formulação de políticas públicas e o processo decisório se encontram sob o domínio de uma elite, gerando inúmeras situações conflituosas. E, por último e não menos importante, é a deficiência na comunicação interpessoal, esta pode causar graves problemas, pois as pessoas tornam-se mais resistentes às mudanças, há um afastamento dos indivíduos e a redução de moral e produtividade.

Para Quinn (2003) e Robbins (2003), a escuta reflexiva e a emissão de feedback são algumas habilidades de comunicação, que quando ausentes dificultam as relações, tornando mais fácil o surgimento do conflito. De acordo com os funcionários pesquisados, no concernente aos tipos dos conflitos laborais no MCTESTP, estes afirmaram que entre os tipos de conflitos que ocorrem com maior frequência na orga­nização destacam-se os do tipo hierárquico e os do tipo discussão. O conflito do tipo hierárquico, causado por problemas de relacionamento entre chefes e subordinados, que, na maioria das vezes, os envolvidos deixam de se falar, prejudicando a comunica­ção e a tomada de decisões importantes. Em relação as implicações dos conflitos laborais, os funcionários do MCTESTP foram quase unânimes em afirmar que, directa ou indirectamente, os conflitos vão sempre afectar significativamente o contexto de uma instituição. Os impactos às relações de trabalho também se mostraram muito importantes, acarretando em desmotivação, insatisfação, falta de comprometimento com a instituição e quebra na produtividade uma vez que os funcionários poderiam utilizar o tempo para se dedicarem a novas actividades e desafios.

É como afirma Chrispino (2007), os conflitos influenciam no rendimento dos funcionários de qualquer instituição. Para os trabalhadores - o conjunto de consequências faz estes entrarem num ritmo de trabalho que os mina física e psicologicamente, podendo originar doenças somáticas crónicas e longas baixas laborais. Para as instituições - o trabalho de um funcionário assediado não é produtivo e repercute-se negativamente no resto da instituição, além dos efeitos negativos para a organização de uma baixa de longa duração por uma situação de stress laboral de um processo de assédio. Porém, quanto aos impactos no nível administrativo, eles são também unânimes em afirmar que os conflitos podem tornar os funcionários dessas instituições desmotivados e insatisfeitos com o ambiente de trabalho, podendo gerar até mesmo a falta de comprometimento com suas atribuições, conduzindo `a um maior isolamento dos funcionários e dos sectores a longo prazo. Além disso, essas situações ainda contribuem para uma visão cada vez mais equivocada da administração pública e seus funcionários.

No que concerne as formas de gestão dos conflitos laborais, no MCTESTP não foi verificado nenhum mecanismo de solução de conflitos prévio e devidamente definido institucionalmente, sendo a gestão dos conflitos completamente pessoal, baseada nas concepções que os gestores têm de como as situações conflituosas devem ser conduzidas e pelo seu estilo de liderança, o que faz com que utilizem os mesmos mecanismos de gestão de conflitos. Da mesma forma, o diálogo é utilizado de forma pessoal, isto é alguns gestores por sua personalidade ou concepção, consideram o diálogo a melhor forma de gerir os conflitos, associando a aplicação da legislação vigente, a transferência de funcionários de departamentos e o uso da autoridade que lhes foi atribuída, a melhor forma de se administrar na administração pública, para se resguardarem de problemas futuros e punirem os funcionários que não se comprometem com os cargos para os quais foram empossados.

No contexto Griffin e Moorhead (2006), destacam que a comunicação é de suma importância para direccionar acções coordenadas, transmitir informações e a maneira como é realizada influência sobremaneira os comportamentos e atitudes organizacionais. Por isso, faz-se necessário destacar o papel que a comunicação desempenha nas organizações e seus componentes, dando ênfase na perspectiva dos problemas na comunicação gerando conflitos.

Para Quinn (2003) a melhor abordagem do tema perpassa por três estratégias possíveis: as orientadas para soluções que focalizam o problema e visam à satisfação de ambas as partes; as não-confrontadoras que focalizam a relação entre os indivíduos, evitando confrontos e desentendimentos e; as estratégias de controlo que focalizam os objectivos, independentemente das vontades individuais e que faz o uso frequente de regras e regulamentos. Para os profissionais do MCTESTP, a comunicação interpessoal é fundamental na gestão de conflitos laborais, um dos instrumentos centrais para as instituições públicas e, ou privadas, sobretudo porque a participação e o envolvimento de todos é um dos pressupostos para o seu êxito. O que para Kunsch (2003), coloca-se como sendo necessária a utilização das ferramentas de comunicação correctas para informar e mobilizar funcionários.

5. Conclusão

Em virtude da pesquisa, pode-se reter que tradicionalmente os conflitos eram vistos como um mal a evitar a todo e qualquer custo, daí que sempre que surgia era eliminado com base no poder e na autoridade. Pressupunha-se que os conflitos eram resultado de comportamentos de certos indivíduos indesejáveis. Esta era a visão tradicional e bastante limitadora e redutora.

Com a evolução dos estudos, chegou-se à conclusão que o conflito pode ser prejudicial, mas pode também trazer benefícios, possibilitando o surgimento de ideias inovadoras. O desacordo aberto pode levar a uma maior exploração de sentimentos, valores, atitudes e pontos de vista. Actualmente entende-se que a existência de conflitos é útil para manter a vitalidade das organizações e dos grupos e para as relações interpessoais. A partir dos aspectos teóricos revistos e da pesquisa de campo realizada percebeu-se que os funcionários públicos consideram os conflitos como sendo naturais e inerentes às relações interpessoais dado que são necessários para gerar inovação, mudanças e para a melhoria de processos. Porém, alguns cépticos, se distanciam em relação à possibilidade de que os conflitos possam gerar resultados positivos para a instituição ou para os próprios indivíduos, posto que estes lidam com as situações conflituosas de forma pessoal, sem se preocupar em gerar mecanismos de solução.

Com esta pesquisa foi possível identificar que não existem apenas conflitos explícitos, mas também latentes, onde nem sempre se conhecem as reais motivações e nem é visível ou percebido por todos. Destaca-se também que não existem apenas conflitos que podem gerar efeitos positivos, que são os chamados conflitos funcionais, como também existem conflitos disfuncionais, que trazem prejuízos e sentimentos negativos aos envolvidos.


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