A vida dos jovens em Moçambique _ Entrevista [Revista: Academus, a juventude]_Ed-I

A vida dos jovens em Moçambique 

¿Será verdade isto? Deixe a tua opinião 
[Entrevista concedida por um jovem trabalhador ]


Quital o nível de vida em Moçambique? 
Ah meu, a vida subiu aqui, tudo subiu. Chapa está para subir agora, aliás, subiu uma vez e agora está para subir da segunda vez. Já não quero referir-me ao combustível, porque subiu, subiu e está a subir cada vez mais. Está mal isto! Óleo de cozinha, 2 L está 310.00Mt, faz pouco que eu comprava a 150. 00Mt, mas agora está a esse preço. Oh brada! Está mal isto aqui, está mal. Essa malta, companhia Nyusi só sabem comer, comer, comer e comer sozinhos. Dizem que é por causa da guerra e, até pode ser, mas antes da guerra em Ucrânia já passávamos mal, o que de certa maneira demonstra que não tem nada a ver. Fazer o quê?! É difícil escutar a palavra prosperar da boca de um jovem, nem que seja um sonho, porque só trabalhamos para comer.

Me deixas curioso. Gostaria de saber a fundo sobre isso. Aqui na Espanha os jovens cantam as mesmas ladainhas. Mas conta-me, eu pensei que o país estivesse num bom caminho a nível de estabilidade da vida.
Eu gosto deste país, amo a pátria. Mas tenho que confessar que, as vezes, isto é uma “pora de país”. Há muitas coisas boas e, obviamente más coisas também. O interessante é que em ambas situações nos rimos e, nos alegramos com tudo. Ademais, é como se tivéssemos nascido com mesmo coração e personalidade. Temos medo, temos medo de manifestar o desgosto. Creio que somos capazes de muitas coisas mas não sabemos usar essa capacidade, entretanto acabamos não tendo capacidade para nada: nem de nos governar [política], nem de jogar [desporto], nem de manifestar contra o governo [sociedade], só olhamos e reparamos alguém que vem e mente e, nós nos rimos. 

Muito bem Bro. Agora falemos de ti mesmo. Gostaria de saber qual foi o teu primeiro sonho, cresceste desejando ser o quê?
Eu, epha! Desde tenra idade sonhei em ser uma alfândega.

E parece que não és como sonhaste. O que deu errado? Ademais, a formação que tiveste deu-te as ferramentas para que mantivesse esse sonho e seguir-lo? 
Fiz ensino geral pensando que me preparava para essa carreira. Tanto que segui com esse sonho até quando me inscrevi para um curso dessa carreira aqui no Maputo, mas as coisas deram errado e não consegui.

Especificamente, o que te obrigou a esquecer e desistir desse sonho?
Comecei a estudar, mas porque não tinha estabilidade financeira para vida e para estudos me vi obrigado a empregar-me. O emprego, de certa maneira, contribuiu para que eu interrompesse.

Falaste agora de trabalho. Se não tinha formação como conseguiste emprego? Concorreste ou um conhecido te chamou para vaga?
Trabalho, emprego, há-há-há-há, que palavras bonitas. Bro, nessa altura fazia biscates para sobreviver. Agora, para conseguir o actual emprego fui chamado. Eu sempre falava com amigos, família e conhecidos que eu buscava emprego. Então de repente, um familiar me chama, e na empresa me submetem a um exame psicotécnico; porque mostrei competência e vontade de aprender fui contratado.

Que análise e comparação fazes, do ponto de vista de estabilidade de vida, antes e depois de conseguir emprego.
Não me vais a crer. Os problemas aumentam quando crescemos. Acho que a sociedade segue a mesma lógica. As coisas mudaram, antes pensava as coisas de um ponto de vista alheio; pão, almoço e jantar eram planos dos cotas. Agora são meus planos. As coisas estão apertadas. Embora o emprego me ajude muito, e me deixe independente _ já não incomodo a gente, pedindo_ há que ter em conta que já sou o “cabeça”. Se eu trabalhasse vivendo em casa dos meus pais, teria 50% de meu salário para caprichos, mas não é exactamente assim; agora sou eu que sustento a família.

Poderias falar-me do nível de ânimo no teu emprego tendo em conta que não é trabalho dos teus sonhos?
O trabalho como tal está óptimo. Eu gosto de trabalhar, este emprego está bom. Mas o valor, o salário ah…não me satisfaz; não está, não está, não está sendo aquilo que era…aaah… não está sendo o mínimo daquilo que é o sustento; é muito pouco, nem para comer assim, sustentar-se é um pouco difícil, tanto que se houver uma oportunidade com salários especiais descarto este djob, descarto sem pensar duas vezes. Se me aumentasse o valor eu diria que estarei aqui para sempre.

Quero fazer-te uma pergunta que não é directa a ti. Olhando o nível de vida que levamos agora, qual seria o salário mínimo para manter uma vida estável na cidade de Maputo?
Se um jovem moçambicano recebesse quinze mil meticais mensais, creio que levaria uma vida básica estável. Com esse valor se descarta a possibilidade de ter um veículo pessoal e uma casa especial, mas pelo menos iria sonhar em fazer Xitique para comprar terreno, fazer família e sustentar-la. Agora, seis, oito e nove mil, isso é paulada, com isso estamos a sobreviver.

Qual é a tua opinião sobre a formação em Moçambique, será que se dá ferramentas suficientes que garantam o emprego no futuro?
Bro toda formação é boa. A escola é benéfica, mas preste muita atenção: se nós estudássemos de verdade a realidade seria outra. Já sabemos que hoje em dia ter emprego, muitas vezes, tem nada a ver com ter estudado ou não. Alguns estão em certas companhias não porque estudaram, as vezes estão porque sabem fazer esse trabalho ou aprenderam lá mesmo. Há que ter em conta o contexto do nosso país, verás que muitos engenheiros são políticos e, professores de Inglês (letrados) por exemplo são os que trabalham em Temane (Sasol). Eu pergunto quem vai industrializar o país? Parece que a formação _ curso _ carreira _ não se leva em consideração quando se trata de conseguir emprego; diríamos: a sorte e o ser conhecido são chaves para o emprego, mas não o conhecimento da área que se contrata. Então a escola parecerá menos importante quando na verdade é. 

Pela experiência que tens sobre a vida, trabalho, família o que dirias aos jovens mais novos que vão crescendo com certa vontade de melhorar a sua vida?
Eu aconselho aos jovens a estudarem, não só, estudarem e saber fazer o que estudam. Pelo menos saber fazer alguma coisa na vida. Sabemos que aqui muitas coisas se consegue por dinheiro, e o dinheiro é o que não temos, por isso é imprescindível saber fazer algo.

Se tivesses a oportunidade de falar com o presidente ou com o primeiro-ministro, o que pediria pelos jovens?
Para mim a matéria chave é saber fazer. Sabendo fazer o que seja, há mais probabilidade de conseguir um bom posto de emprego, daí que lhe pediria para que de hoje para diante criasse condições que formassem técnicos em vista as oportunidades que os recursos nos naturais nos possibilitaram.

Se pudesses o que farias pelos jovens?
Se tivesse possibilidades eu criaria escolas próprias para a preparação de mão-de-obra para o país. Agora o programa escolar não seria mais de só alfabetizar, mas também formar técnicos para que saibam fazer: estradas, prédios, agricultura. Porque se sabes fazer, pelo menos, trabalharias para ti mesmo (autoemprego) se não consegues emprego. Como eram os nossos pais? Não tinham estudado mas pelo menos sabiam fazer algo nas minas da vizinha África do Sul. O que fazem os chineses por aqui? E os franceses e italiano na bacia de Rovuma? Estão aqui porque sabem fazer o que nós não sabemos e nada mais. Digo: preparação de mão-de-obra do país

Concedida por: “Bro”

Academus
Imagen de Adobe. Nada tem a ver com o entrevistado
 

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